domingo, 30 de março de 2008

FAGULHAS DE MARÇO



Da janela onde escrevo com o violão no colo, vejo pesadas nuvens armadas ao redor de uma torre de televisão para desatar a chuva sobre Belém. Jobim e Elis sopram "São as águas de março fechando o verão". Talvez caia um raio na torre.

Hugo Chavez passou por aqui anteontem e resolveu ignorar o Rei da Espanha: não quis se calar. O Centro de Convenções do Hangar estava lotado e milhares de pessoas estavam lá querendo ouvi-lo enquanto as tropas da Força Nacional e seus os arcos de fogo vigiam Tailândia.

Começa a chover e aí vejo a IstoÉ com uma chamada de capa sobre Terapias de Vivências Passadas e uma pequena manchete de contraste que diz: " EXCLUSIVO: ISTOÉ entra na base da Liga dos Camponese Pobres e mostra que há Guerrilha no Brasil. O grupo armado tem nove vezes mais combatentes do que o PCdo B reniu no Araguaia e só no ano passado matou 22 pessoas." A ISTOÉ disse isso... E aí pensei: Quem estará conferindo as vítimas nas estatísticas da grilagem em áreas públicas e indígenas no Pará. E as Guerrilhas dos morros do Rio de Janeiro e das favelas de São Paulo enquanto no hangar a voz de Chavez ricocheteava nos vidros belgas que outro Chaves mandou comprar com nosso dinheiro e colocar nas paredes do Hangar ? Guerrilha no Brasil,Favelas do Rio e de SAMPA, baixadas de Belém..... Onde fica a sede da A ISTOÉ é ? Em Londres ? Em Bora Bora...há tantas guerrilhas e anti-guerrilhas no Brasil que só agora a ISTOÉ imagina tê-las descoberto nos arredores de Buritis em Rondônia.

Raul Reyes "se fue" debaixo do bombardeio proporcionado pelo rastramento das ligações de Chavez às FARC e a chuva cai pesada na Rain Forest apagando o fogo do arco.

Nos diários de Che em sua motocicleta, nas fogueiras de Sierras Maestras, no sonho dos meninos do Araguaia: niños, Curumins e Cunhantãs esperam outros amanhãs.